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Mensagem Pastoral - Novembro 2014
03:52 , dom, 02/nov/14

Mensagem Pastoral – Novembro 2014

Ecumenismo

Como herdeiros e herdeiras da Reforma possuímos, enquanto Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, uma identidade, um rosto e um jeito de ser. Em outros termos: sustentamos valores que nos caracterizam e definem como Igreja de Jesus Cristo na sociedade e no mundo. Assim sendo, desejo compartilhar nesse espaço um dos valores da IECLB: a ecumenicidade.

Entendo que a busca por unidade, objetivo último do ecumenismo, não se reduz à esfera eclesiológica, ao diálogo entre as diversas “igrejas irmãs”. Mas sim, convida pessoas distintas a viverem em comunhão. Ainda que a unidade entre as pessoas cristãs esteja no topo da agenda cristã, ela é primazia e não pode ser vista como um fim em si. Para tanto, vale lembrar que a oikoumene se refere a todo mundo habitado, o que aponta para uma origem de unidade que transcende o nível puramente religioso.

O ecumenismo almeja a unidade de toda a humanidade e sociedade, afinal, todas as pessoas são apresentadas no livro de Gênesis como criadas à imagem e semelhança de Deus. Nesse sentido, o mundo dilacerado pela violência e pela falta de amor e fraternidade deve ser visto como um chamado à unidade, à paz e à inclusão.

A unidade pretendida por Jesus deve ser entendida como aquela que reconhece e chama o outro de pessoa próxima. Tal proximidade não poupa ações, nem deveres. A aceitação incondicional de Jesus para com todos ensina a comunidade cristã a acolher a pessoa próxima no amor (Mt 22.39), bem como zelar pela pessoa necessitada, como afirma a conhecida parábola do bom samaritano (Lc 10.30b-35).
Nesse sentido, a unidade só existe no amor e no acolhimento mútuo, conforme acontece ali, no momento em que sentimentos de vaidade e de soberba são postos de lado. Assim, pode-se afirmar que é na “leve” e “árdua” vida de Cristo que o ecumenismo principia. Aos pés da cruz de Cristo, encontra-se o chamado à unidade, “a fim de que todos sejam um” (Jo 17.21).

Entretanto, a unidade intencionada pelo movimento ecumênico não exige a anulação de uma salutar diversidade, fruto da própria Criação. Aliás, o próprio ecumenismo só existe em meio a essa diversidade. As Sagradas Escrituras, que fundamentam o ecumenismo, são uma realidade ecumênica em si mesmas. O testemunho bíblico surge por meio do testemunho de um grupo de pessoas, nasce em meio a uma “nuvem de depoimentos” (cf. Hb 12.1).

A comunhão entre o diferente, entretanto, não significa uma relativização. A Bíblia, na tradição cristã, aponta invariavelmente para o seu eixo gravitacional, ou seja, o Evangelho. O Evangelho não é um dogma, mas a pessoa de Jesus Cristo. O ecumenismo aponta em direção a esse eixo gravitacional, não sendo, portanto, relativização. Ao contrário, é compromisso teológico e ético em torno da mensagem de Jesus Cristo. É esse o seu critério! A falta dele favorece leituras oportunistas e equivocadas. Consequentemente, o ecumenismo exige uma coerente interpretação bíblica que investiga as Sagradas Escrituras em seu contexto e em sua história. Uma leitura fundamentalista da Bíblia camufla e distorce a Boa Nova, bem como colabora para uma leitura legalista e reducionista do testemunho bíblico que segrega, exige uniformidade e deixa de acolher o diverso.

A unidade evidentemente tem como parâmetro a vida e a mensagem de Cristo. É Ele quem define a unidade em Sua vida e em Sua cruz. Assim, o ecumenismo, a partir de Jesus Cristo, deve ser entendido como uma prática que acolhe no amor – e não meramente tolera. Como tal, a unidade entre as pessoas principia no respeito mútuo. A disposição para o diálogo que visa à união do diverso, parte dessa premissa.
Entendo que o ecumenismo pode ser visto como uma mentalidade que procura traduzir a fé num Deus Criador que almeja a unidade da Sua criação, bem como o da Sua Igreja. Já na prática visa o respeito e a fraterna comunhão entre as pessoas.

Assim sendo, a tradição confessional da IECLB não nos isola, mas nos chama à unidade (cf. Jo 17.20-23; cf. 1 Co 12-25-27), ou seja, a um vínculo de fé e ação com todas as igrejas que no mundo confessam o Cristo como Senhor e Salvador.

Sigamos, pois, juntos no caminho!

Um forte abraço,

Daniel

03:31 , sáb, 01/nov/14

Boletim – Novembro 2014